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Exposição realizada em 2023 no Complexo Cultural FUNARTE em SP

Curadoria e organização por: Yuki Zarate, Céu Isatto, Luna Girão, Natha Calhova, Lívia Liu e Luah Souza

Pedacinho´s Island

(Texto por Céu Isatto e Natha Calhova) 

juntou-se muita gente
para ver o que era


uma grande procissão de dinossauros de plástico, sobras de festinhas infantis,
patinhos de borracha que morreram na banheira e bandeirinhas de cores diversas
escoltam fielmente mensagens na garrafa que foram jogadas no mar há muito tempo
por adolescentes. atravessam com força, calma e persistência milhares e milhares de
quilômetros por linhas invisíveis até alcançar seu destino: um conglomerado de
dejetos e lembranças pueris na forma de ilhotas artificiais na imensidão do oceano


permeiam os sonhos das sereias
diminuem a solidão das estrelas, das algas e dos corais
provocam o sono profundo dos peixes que são enganados pela boca


tudo é eterno, as coisas só quebram em pedacinhos menores:
o plástico vira glitter e o papel vira confete


talvez seja possível encontrar no mar os restos do que já fomos:
cartinhas de primeiro amor
câmeras da barbie
a embalagem daquele doce que não existe mais
o ursinho de pelúcia desaparecido
ou
qualquer outro brinquedo perdido na rua da infância
todos juntinhos em um grande abraço numa ilha de lixo


pela memória afetiva e pela nostalgia grudada no microplástico abundante na biosfera
que


juntou-se muita gente
para ver o que era


pedacinho’s island


como agarrar as memórias da infância (em afeição, ferramenta, ou arma) que
escapam pelos dedos como a areia falsa do outro lado de um triturador industrial?
qual o futuro das lembranças quando nos tornamos grandes demais para elas?
o que sobra dos objetos e relicários esquecidos?

se transiciono, eu largo meu vestido velho ou a bermuda com a qual jogava futebol?
para onde vão esses antigos alvos de carinho quando — ao passar dos anos — já não
me servem mais?


tudo é eterno, as coisas só quebram em pedacinhos menores.


tudo é eterno
e da reunião do glitter com confetes e dejetos das nossas memórias

engendramos — com potência fatal — os restos:
o Frankenstein acontece de pequenos cadáveres
e o sol da conciliação de poeirinhas


para ver o que era

 

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