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Exposição realizada em 2024 no espaço Entr3posto em SP

Curadoria e texto por Céu Isatto

Artistas: Lui Beraldo, Livi Liu e Uma Moric

Embaixo das suas Unhas
 

       Os cílios são diminutas patas de aranha e o cheiro doce de pólen — invadindo quente — é rastro do processo de apodrecimento de flores de jasmim. Saliva desce vagarosamente; ponte de beijo, consistência de teia. Consciência se dissolve e as palavras se derretem em sons desconexos, ruídos, urros. Mordida no escuro; flash em canto de olho, pelos se eriçam num jardim de agulhas. As borboletas no estômago lutam para trazer um refluxo bem vindo; desalojando os órgãos e abrindo espaço para algo mais necessário. Algo infecta o corpo, se apoderando dos sentidos e funções motoras.
      Pensamentos foram suspensos.
      Fome insaciável se abre em gotejar no canto da boca e algo se aloja — em brilho diabólico — embaixo das suas unhas.
      Correntes em forma de lacinho se levantam como com vida própria, buracos eróticos se configuram em paisagem e padrões de vazios de imagens PNG saem da tela do computador para se encarnar em matéria macia. Amor dissociado, visceral ou disforme se juntam e contaminam aqui nesta sala de 17m² de paredes manchadas.
      Trazemos aqui essa junção — numa linha curatorial muito inspirada na literatura de Mariana Enriquez, cinema body horror e experiência erótica trans — como uma forma de estudo sobre a parte enterrada do desejo, sua sombra e a natureza erótica do horror. A palavra enterramento aqui não pensa nesse desejo como cadáver inerte ou criatura que deva permanecer enterrada, mas sim como algo mais profundo, escondido. Essa é uma mostra sobre a base oculta que sustenta as formas de amor e erotismo que são conhecidas na superfície do desejo.

 

“No: tongue breaks, and thin
fire is racing under skin
and in eyes no sight and drumming
fills ears
and cold sweat holds me and shaking
grips me all, greener than grass
I am and dead—or almost I
seem to me.”
(Poema de Safo. Tradução de Anne Carson)



“A quem falta o objeto de amor? A quem ama.[...]  
Quem é o verdadeiro sujeito da maioria dos poemas de amor? Não é a pessoa amada. É aquele buraco.”
(Anne Carson em Eros: doce-amargo)




“MONSTRO
mo:ns.tro. Etimologia de moneo (avisar, advertir, aconselhar)”
(Acesso a wikitionary.org)

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