Exposição realizada em 2024 no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul
Primeira exposição do edital "Chamada Aberta" do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS) por meio de propostas apreciadas pelo Comitê de Acervo e Curadoria do Museu.
Curadoria por Céu Isatto e Lael Peters
Texto por Céu Isatto
Artistas: Artur Ferreira, Caru Brandi, Céu Isatto, Dudi Maia Rosa, Flavuush, Gabriel Pessoto, Gelson da Silva Soares, Guilherme Fuentes, Jéssica Porciúncula, Lael Peters, Leonardo Fanzelau, Marina Borges, Michel Au Hasard, Monique Huerta, Natha Calhova, Pauli Carvalho, Toni Graton, Yuki Zarate
Nham Nham Nham
Sinestesia é o nome dado ao cruzamento de sensações ou sentidos: Uma vibração na pele e uma nota na orelha se confundem, a língua e uma mão se entrecruzam, os pelos do corpo se eriçam em sincronia com a salivação dentro de uma boca.
Há olhos na minha pele e um paladar presente nos meus nervos ópticos, bastonetes e cones e, ao ver textura e cor eu sinto vontade de acariciar um quadro; talvez até de comê-lo. Se não arranho a superfície pictórica ou devoro uma obra por inteiro em uma mordida é obviamente por medo de danificá-lo ou, de talvez, suspeitar – pelo que me sussurra o bom senso – ser uma experiência desconfortável mastigar a madeira do bastidor, algodão, pigmentos variados e gesso. Há uma fome presente mas ela não se origina necessariamente na boca existente entre o meu queixo e nariz. O que quero mas não posso comer é sempre mais gostoso. Imagino de longe qual seria seu sabor: observo a alguns metros, a alguns centímetros de distância, milímetros se possível, sigo as ranhuras rachaduras massas pinceladas formas texturas densidades transparência e consumo com o olhar ao alimentar o insaciável na procura de gostos que não podem ser processados apenas pelas papilas gustativas e a biota do meu corpo.
“Nham nham nham” parte do desejo de deglutir e sentir o sabor imaginário da massa de parafinas tóxicas, bolos de barro deliciosos e pigmentos apetitosos (e possivelmente cancerígenos) de sabor amargo desenvolvidos no último século para cartazes industriais e papéis de bala. Entre o corante, a embalagem e sobras coloridas de petróleo a exposição apresenta uma coreografia de enozamentos entre os sentidos numa sincronia sintética para encorajar a extrapolar suas funções antes pensadas separadas.